sábado, 7 de setembro de 2013

Reflexão sobre o Process de Alfabetização e Aprendizagem da Matemática do Aluno com Síndrome de Down

SIMONE SIMÕES DA SILVA

REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA DO ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN



ANHANGUERA PÓS-GRADUAÇÃO
PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL
SETEMBRO 2012

INTRODUÇÃO

O objetivo desse trabalho é o de trazer informações acerca da Síndrome de Down, como sua ocorrência, características, forma de apresentação, seus tratamentos para que o profissional da pedagogia e da psicopedagogia possa interagir com esse aluno sem medos para conseguir resultados concretos e efetivos, focando no ensino da linguagem e matemática.
O psicopedagogo institucional é o profissional indicado para orientar o processo de ensino-aprendizagem para crianças com os mais variados distúrbios e dificuldades de aprendizagem, inclusive portadores de Síndrome de Down, e para isso é necessário ter amparo em conhecimento teórico científico.
As neurociências, a pedagogia, psicologia e psicopedagogia estão convergindo seus conhecimentos para o bem comum do sujeito cognoscente, ou seja, compreendendo e criando formas cada vez mais estruturadas para o aprendizado humano.
Segundo Castanho (2011), a Psicopedagogia vem se consolidando como área interdisciplinar voltada para a compreensão e a intervenção nos processos de aprendizagem de indivíduos e grupos, nos vários contextos sociais, culturais e institucionais em que a aprendizagem ocorre.
Sendo assim tem seu papel tanto na recuperação quanto na estruturação do processo de ensino-aprendizagem nos casos de distúrbios, déficits e dificuldades do aprendizado como na Síndrome de Down.

DESENVOLVIMENTO

Etiologia da Síndrome de Down
A Síndrome de Down é um distúrbio genético que apresenta comprometimento neurológico grave como parte do quadro de sintomas, faz parte das anormalidades cromossômicas, classificada como Trissomia do Cromossomo 21, que para a área médica é classificada como a mais comum causa de retardo mental que pode ser de grave a moderado.
De acordo com Umphred (1994), foi descrita primeiro como mongolismo em 1866 pelo Dr. Langdon Down, a causa da Síndrome de Down como presença de um cromossomo extra no Grupo G foi descoberta por Lejeune em 1959. Afirma também que a incidência de bebês afetados pela Síndrome se dá pelo avanço da idade materna.


Segundo o Centro de Pesquisas do Genoma Humano (CEGH), ligado ao Instituto de Biociências da USP, a incidência da Síndrome de Down é estimada em cerca de 1 caso em cada 800 crianças nascidas vivas. E descreve a Síndrome da seguinte forma:
Essa síndrome decorre da presença de uma cópia extra do cromossomo 21 no material genético do afetado. Um indivíduo sem alteração em seu material genético tem duas cópias de cada um dos tipos de cromossomos humanos e o afetado pela síndrome de Down tem três cópias de um deles, o cromossomo 21. A presença de três cromossomos 21 normais (denominada trissomia livre) é a causa mais comum da síndrome de Down, ocorrendo em mais de 90% dos casos. Nesses casos, a cópia extra do cromossomo 21 está translocada para a porção terminal de outro cromossomo. Além dessas duas possibilidades, o mosaicismo do cromossomo 21 é encontrado em cerca de 2 a 4% dos indivíduos com a síndrome de Down. É importante ressaltar que os afetados pela síndrome devido a um rearranjo cromossômico são indistinguíveis fenotipicamente daqueles com trissomia livre do 21. Além disso, nos casos de translocações cromossômicas não há relação entre a idade materna e o rearranjo. As características clínicas da síndrome de Down são congênitas e incluem, principalmente: atraso de desenvolvimento neuropsicomotor, hipotonia muscular, baixa estatura, anomalias cardíacas, microcefalia, perfil achatado, olhos com fendas palpebrais oblíquas, orelhas pequenas com implantação baixa, língua grande, protrusa e sulcada, clinodactilia (encurvamento) dos quintos dígitos, aumento da distância entre o primeiro e o segundo artelho e prega única nas palmas das mãos. Pacientes adultos apresentam frequentemente alterações características da doença de Alzheimer.
De acordo com o Manual Merck on line, as crianças com síndrome de Down correm um maior risco de contrair doenças do coração e leucemia. A sua esperança de vida é reduzida se apresentarem estas anomalias. Muitas pessoas com síndrome de Down têm problemas de tiroide. Têm tendência para sofrer de problemas nos ouvidos, devido a repetidas infecções e à consequente acumulação de líquido no ouvido interno (otite serosa). Também desenvolvem problemas de visão, causados por mudanças na córnea e no cristalino. Tanto os problemas auditivos como visuais podem ser tratados. Muitas pessoas com síndrome de Down apresentam sintomas de demência quando chegam aos 30 anos (perda de memória, maior deterioração da inteligência e mudança de personalidade). É comum que a sobrevida de um portador de Down seja mais breve.
É importante que os profissionais que acompanham a criança portadora da Síndrome de Down possuam conhecimentos da etiologia do distúrbio para basear a sua prática.

Visão Estrutural
Crianças com Síndrome de Down passam por acompanhamento clínico com os mais diversos profissionais, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e desde o nascimento com fisioterapeutas. De acordo com Guia do bebê com síndrome de Down – dr Zan Mustacchi, o bebê pode começar a fisioterapia desde o nascimento para que, com os exercícios, consiga


sustentar o pescoço, rolar, sentar-se, arrastar-se, engatinhar, ficar em pé e andar, minimizando os efeitos motores da síndrome de Down.
O Fisioterapeuta deve trabalhar a criança para que melhore seu tônus muscular, construa postura ereta, marcha normal e obtenha qualidade em seu desenvolvimento motor geral, adquirindo assim sua independência nas atividades da vida diária. Fator importante para o desenvolvimento das coordenações motoras necessárias para a vida escolar.
Dessa forma faz-se necessário que psicopedagogos pensem a necessidade e acompanhamento do trabalho motor como causa de fundamental importância para o desenvolvimento do aluno com Síndrome de Down.

Cognição
Coseza e Guerra (2011) descrevem que há diminuição do tronco encefálico e do cerebelo e também de neurônios do córtex cerebral. E que embora sejam capazes de adquirir alguns conhecimentos, todos os portadores têm dificuldades na aprendizagem, de leve a moderada.
Ainda em Coseza e Guerra (2011), a síndrome de Down produz alterações no tamanho das estruturas do sistema nervoso, no número de neurônios e na taxa de formação de sinapses, por isso as funções cognitivas importantes para a aprendizagem como a linguagem, a memória e a função executiva encontram-se prejudicadas.
Essas alterações podem ter sua atividade alterada pela interação ambiental, ou seja, com estímulos precoces desde o nascimento já com a fisioterapia e com estímulos recebidos pelos pais, como carinho, cuidado e amor, que são fundamentais para o desenvolvimento motor, mental e psicológico. Mais a frente com intervenções psicomotoras e pedagógicas adequadas levam o sindrômico a novos padrões de comportamento, diferenciando-se daqueles que não recebem o mesmo estímulo.
Coseza e Guerra (2011, p.145), afirmam que as políticas de inclusão demandam a capacitação dos profissionais de apoio nas escolas regulares. As neurociências e os estudos e descobertas de estratégias pedagógicas específicas, são condições imprescindíveis para tornar a inclusão de crianças com necessidades especiais, tais como autistas e na síndrome de down, à realidade.
De acordo com a citação feita pelo Professor Potiguara¹ a educação deve ser tomada como ciência e não como educação.
Educação é o ato de educar e está relacionado com o potencial de tornar no outro aquilo que se deseja, ou seja, de moldar o ser em questão de acordo com valores de um determinado núcleo. Isso é o que todas as famílias fazem com relação a seus filhos, no tocante a educação, repassando o que aprenderam.
Já a escola tem o papel de estruturar a mente humana para as ciências, para o que a humanidade conquistou em termos de descobertas e aprimoramentos científicos e históricos, constatando assim a evolução humana.
Vendo por esse ângulo se faz necessário mudar a visão da escola passando a estruturação científica do aprender e não mais educativa, dessa forma o apreender cabe a todos.
Segundo Cunha (2011), quando alguém diz que certa criança tem problemas de aprendizagem, intuímos que ela não está conseguindo reter e processar informações de forma adequada em relação aos conteúdos abordados na escola.
Podemos verificar que essa teoria é errônea ao nos deparar com o conceito de aprendizagem exposto por Carlson (2002), citado por Cunha (2011), que é o processo pelo qual as experiências mudam nosso sistema nervoso e, desta forma, também mudam nosso comportamento. Na página 197, expõe que a memória é parte fundamental da aprendizagem, a repetição dos atos, sons, imagens ou quaisquer outras situações tem um forte efeito na sua apreensão. Já na página 202, afirma que a inteligência é produto entre a formação do cérebro estruturada durante a sua formação (genética) e a interação com o meio ambiente (afetividade, estímulos, nutrientes), aos quais todos nós estamos sujeitos. Esse conceito é de grande importância para o ensino escolar aos portadores de Síndrome de Down. Suas deficiências são concretas, ou seja, orgânicas e biológicas, mas de acordo com a interação com o meio e a forma que são tratados podem levar ao aprendizado efetivo de conteúdos e conceitos, mudando sua estrutura cerebral.
Assim sendo, cabe a psicopedagogia observar, pesquisar, buscar termos e orientar os profissionais da educação ao trabalhar com portadores da Síndrome de Down.
Para Salvador et al (1999), o desenvolvimento do indivíduo se dá na interação entre a bagagem biológica-hereditária e a bagagem cultural própria do grupo em que está inserido, fortalecendo mais as condições de aprendizados de alunos com Síndrome de Down.
¹Professor Potiguara, em sua terceira aula para o curso de Psicopedagogia Institucional da Universidade Anhanguera, datada de 27.08.2012.


Para Cisto et al (2010, p.61), citando Nunes e Bryant (1997), lembram que as crianças precisam ser lógicas e devem entender o sentido lógico do que estão fazendo, obedecendo a regras e princípios lógicos. Em seus trabalhos Piaget mostra que as crianças devem captar os princípios lógicos como os de conservação e transitividade.
Baseando-se nesse fato e nas conclusões da pesquisa sobre o ITS (Sistema Tutorial Inteligente) de Groenwald et al (2010), o aluno com síndrome de Down é capaz de aprender conteúdos e conceitos lógico-matemáticos se o mesmo for apresentado de forma concreta e se o mesmo conceito for apresentado diversas vezes, reforçando o conteúdo aprendido. A pesquisa também esclarece que a aquisição do conceito número se faz de 0 a 9, podendo-se trabalhar dentro dessas especificações.
Quando o contexto do aprendizado é a leitura e escrita, o profissional pedagogo que acompanha o aluno com Síndrome de Down deve estar atento as fases da construção da escrita expostos por Emilia Ferreiro (1999) e parar de acreditar que devem buscar métodos e cartilhas para seguir, conforme exposto por Moraes e Kubaski (2009), é necessário que o professor interaja, conheça e perceba seu aluno, buscando seus próprios métodos, apoiando-se nas teorias do conhecimento existentes, lembrando que o trabalho deve ser feito sempre dentro da realidade de cada aluno.

CONSIDERAÇÕES

Faz-se necessário que os professores e a direção escolar reestruturem suas visões com relação à inclusão e aos métodos, pois o método é algo variável e não deveria ser o foco de processo de ensino-aprendizagem, mas sim o próprio processo.
Como todo processo o aprender ocorre de maneira única para cada ser humano, não é linear, sofre alterações constantes como nos apresentou o Professor Potiguara em sua aula de Desenvolvimento do Pensamento Lógico Matemático, referindo-se a Madeimoselle Ramén, que afirma que o conhecimento se dá como se fosse bico de serra, uns mais altos que os outros, uma hora o aluno sobe outra desce.
A conclusão é de que o professor precisa estar amparado pelo saber científico para desenvolver-se em sala de aula, seja com alunos padrões ou com alunos de inclusão, vivemos numa era onde o aprender é constante, as informações estão soltas em todos os meios de comunicação e a apropriação de conteúdos e conceitos de qualidade se faz necessário, logo a


intervenção de um profissional especializado e com especificações de fundo científico e de forma consciente é muito importante para a realização do mais importante de todos os processos escolares que é o aprender-ensinar. 

BIBLIOGRAFIA


  • BARONE, Leda Maria Codeço; MARTINS, Lilian Cassia Bacich; CASTANHO, Marisa Irene Siqueira. Psicopedagogia: teorias da aprendizagem. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.
  • Centro de Estudos do Genoma Humano: http://genoma.ib.usp.br/?page_id=895. Acessado em 28/09/2012.
  • COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B. Neurociência e Educação: Como o Cérebro Aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011.
  • CUNHA, Claudio da. Introdução a Neurociência. Campinas, SP: Editora Átomo, 2011.
  • FERREIRO, Emilia; TEBEROSKY, Ana. Psicogênese da Língua Escrita. Reimpressão 2007. Porto Alegre: Artmed, 1999.
  • GROENWALD, Claudia Lisete Oliveira; SEIBERT, Tania Elisa; MORENO, Lorenzo; MUÑOZ, Vanesa; HORA Genigleide Santos da; MATOS, Aracy Curvelo de; SALLENAVE, Jaqueline Anthony C.; CAFESEIRO, Jeane Santos. Eixos convergentes na aprendizagem matemática de alunos com síndrome de down. 2010.
  • Manual Merck. Seção 23, Capítulo 254.  Anomalias Congênitas: http://www.manualmerck.net/?id=280&cn=1486&ss=. Acessado em 28/09/2012.
  • MORAES, Violeta Porto; KUBASKI, Cristiane. As inquietações ocasionadas na alfabetização de Crianças com síndrome de Down na rede regular de ensino. PUCPR, 2009.
  • Movimento Down. http://www.movimentodown.org.br/content/coordenadora-do-movimento-down-defende-educa%C3%A7%C3%A3o-inclusiva-em-escolas-regulares. Acessado em 28/09/2012.
  • SISTO, Fermino Fernandes; BORUCHOVITCH, Evely; FINI, Lucila Diehl Tolaine; BRENELLI, Rosely Palermo; MARTINELLI, Selma de Cássia. Dificuldades de Aprendizagem no Contexto psicopedagógico. 6ª edição. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
  • UMPHRED, Darcy Ann. Fisioterapia Neurológica. 1ª edição. São Paulo: Editora Manole.

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