SIMONE SIMÕES DA SILVA
REFLEXÃO SOBRE O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO E APRENDIZAGEM DA
MATEMÁTICA DO ALUNO COM SÍNDROME DE DOWN
ANHANGUERA
PÓS-GRADUAÇÃO
PSICOPEDAGOGIA
INSTITUCIONAL
SETEMBRO
2012
INTRODUÇÃO
O objetivo desse
trabalho é o de trazer informações acerca da Síndrome de Down, como sua
ocorrência, características, forma de apresentação, seus tratamentos para que o
profissional da pedagogia e da psicopedagogia possa interagir com esse aluno sem
medos para conseguir resultados concretos e efetivos, focando no ensino da linguagem
e matemática.
O psicopedagogo
institucional é o profissional indicado para orientar o processo de
ensino-aprendizagem para crianças com os mais variados distúrbios e
dificuldades de aprendizagem, inclusive portadores de Síndrome de Down, e para
isso é necessário ter amparo em conhecimento teórico científico.
As neurociências, a
pedagogia, psicologia e psicopedagogia estão convergindo seus conhecimentos
para o bem comum do sujeito cognoscente, ou seja, compreendendo e criando
formas cada vez mais estruturadas para o aprendizado humano.
Segundo
Castanho (2011), a Psicopedagogia vem se consolidando como área
interdisciplinar voltada para a compreensão e a intervenção nos processos de
aprendizagem de indivíduos e grupos, nos vários contextos sociais, culturais e
institucionais em que a aprendizagem ocorre.
Sendo assim
tem seu papel tanto na recuperação quanto na estruturação do
processo de ensino-aprendizagem nos casos de distúrbios, déficits e
dificuldades do aprendizado como na Síndrome de Down.
DESENVOLVIMENTO
Etiologia
da Síndrome de Down
A Síndrome de Down é um
distúrbio genético que apresenta comprometimento neurológico grave como parte
do quadro de sintomas, faz parte das anormalidades cromossômicas, classificada
como Trissomia do Cromossomo 21, que para a área médica é classificada como a
mais comum causa de retardo mental que pode ser de grave a moderado.
De acordo com Umphred
(1994), foi descrita primeiro como mongolismo em 1866 pelo Dr. Langdon Down, a
causa da Síndrome de Down como presença de um cromossomo extra no Grupo G foi
descoberta por Lejeune em 1959. Afirma também que a incidência de bebês
afetados pela Síndrome se dá pelo avanço da idade materna.
Segundo o Centro de
Pesquisas do Genoma Humano (CEGH), ligado ao Instituto de Biociências da USP, a
incidência da Síndrome de Down é estimada em cerca de 1 caso em cada 800
crianças nascidas vivas. E descreve a Síndrome da seguinte forma:
Essa síndrome decorre da presença
de uma cópia extra do cromossomo 21 no material genético do afetado. Um
indivíduo sem alteração em seu material genético tem duas cópias de cada um dos
tipos de cromossomos humanos e o afetado pela síndrome de Down tem três cópias
de um deles, o cromossomo 21. A presença de três
cromossomos 21 normais (denominada trissomia livre) é a causa mais comum da
síndrome de Down, ocorrendo em mais de 90% dos casos. Nesses casos, a
cópia extra do cromossomo 21 está translocada para a porção terminal de outro
cromossomo. Além dessas duas possibilidades, o mosaicismo do cromossomo 21 é
encontrado em cerca de 2 a 4% dos indivíduos com a síndrome de Down. É
importante ressaltar que os afetados pela síndrome devido a um rearranjo
cromossômico são indistinguíveis fenotipicamente daqueles com trissomia livre
do 21. Além disso, nos casos de translocações cromossômicas não há relação
entre a idade materna e o rearranjo. As características clínicas da síndrome de
Down são congênitas e incluem, principalmente: atraso de desenvolvimento
neuropsicomotor, hipotonia muscular, baixa estatura, anomalias cardíacas,
microcefalia, perfil achatado, olhos com fendas palpebrais oblíquas, orelhas
pequenas com implantação baixa, língua grande, protrusa e sulcada,
clinodactilia (encurvamento) dos quintos dígitos, aumento da distância entre o
primeiro e o segundo artelho e prega única nas palmas das mãos. Pacientes
adultos apresentam frequentemente alterações características da doença de
Alzheimer.
De acordo com o Manual Merck
on line, as crianças com síndrome de Down correm um maior risco de
contrair doenças do coração e leucemia. A sua esperança de vida é reduzida se
apresentarem estas anomalias. Muitas pessoas com síndrome de Down têm problemas
de tiroide. Têm tendência para sofrer de problemas nos ouvidos, devido a
repetidas infecções e à consequente acumulação de líquido no ouvido interno
(otite serosa). Também desenvolvem problemas de visão, causados por mudanças na
córnea e no cristalino. Tanto os problemas auditivos como visuais podem ser
tratados. Muitas pessoas com síndrome de Down apresentam sintomas de demência
quando chegam aos 30 anos (perda de memória, maior deterioração da inteligência
e mudança de personalidade). É comum que a sobrevida de um portador de Down
seja mais breve.
É
importante que os profissionais que acompanham a criança portadora da Síndrome de
Down possuam conhecimentos da etiologia do distúrbio para basear a sua prática.
Visão Estrutural
Crianças
com Síndrome de Down passam por acompanhamento clínico com os mais diversos
profissionais, como médicos, psicólogos, fonoaudiólogos e desde o nascimento
com fisioterapeutas. De acordo com Guia do bebê com
síndrome de Down – dr Zan Mustacchi, o bebê pode começar a
fisioterapia desde o nascimento para que, com os exercícios, consiga
sustentar o pescoço, rolar, sentar-se,
arrastar-se, engatinhar, ficar em pé e andar, minimizando os efeitos motores da
síndrome de Down.
O
Fisioterapeuta deve trabalhar a criança para que melhore seu tônus muscular, construa
postura ereta, marcha normal e obtenha qualidade em seu desenvolvimento motor
geral, adquirindo assim sua independência nas atividades da vida diária. Fator
importante para o desenvolvimento das coordenações motoras necessárias para a
vida escolar.
Dessa forma
faz-se necessário que psicopedagogos pensem a necessidade e acompanhamento do
trabalho motor como causa de fundamental importância para o desenvolvimento do
aluno com Síndrome de Down.
Cognição
Coseza e
Guerra (2011) descrevem que há diminuição do tronco encefálico e do cerebelo e
também de neurônios do córtex cerebral. E que embora sejam capazes de adquirir
alguns conhecimentos, todos os portadores têm dificuldades na aprendizagem, de
leve a moderada.
Ainda em
Coseza e Guerra (2011), a síndrome de Down produz alterações no tamanho das
estruturas do sistema nervoso, no número de neurônios e na taxa de formação de
sinapses, por isso as funções cognitivas importantes para a aprendizagem como a
linguagem, a memória e a função executiva encontram-se prejudicadas.
Essas
alterações podem ter sua atividade alterada pela interação ambiental, ou seja,
com estímulos precoces desde o nascimento já com a fisioterapia e com estímulos
recebidos pelos pais, como carinho, cuidado e amor, que são fundamentais para o
desenvolvimento motor, mental e psicológico. Mais a frente com intervenções
psicomotoras e pedagógicas adequadas levam o sindrômico a novos padrões de
comportamento, diferenciando-se daqueles que não recebem o mesmo estímulo.
Coseza e
Guerra (2011, p.145), afirmam que as políticas de inclusão demandam a capacitação
dos profissionais de apoio nas escolas regulares. As neurociências e os estudos
e descobertas de estratégias pedagógicas específicas, são condições
imprescindíveis para tornar a inclusão de crianças com necessidades especiais,
tais como autistas e na síndrome de down, à realidade.
De acordo
com a citação feita pelo Professor Potiguara¹ a educação deve ser tomada como
ciência e não como educação.
Educação é
o ato de educar e está relacionado com o potencial de tornar no outro aquilo
que se deseja, ou seja, de moldar o ser em questão de acordo com valores de um
determinado núcleo. Isso é o que todas as famílias fazem com relação a seus
filhos, no tocante a educação, repassando o que aprenderam.
Já a escola tem o papel de estruturar a mente humana para as ciências,
para o que a humanidade conquistou em termos de descobertas e aprimoramentos
científicos e históricos, constatando assim a evolução humana.
Vendo por esse ângulo se faz necessário mudar a visão da escola
passando a estruturação científica do aprender e não mais educativa, dessa
forma o apreender cabe a todos.
Segundo Cunha (2011), quando alguém diz que certa criança tem
problemas de aprendizagem, intuímos que ela não está conseguindo reter e
processar informações de forma adequada em relação aos conteúdos abordados na
escola.
Podemos verificar que essa teoria é errônea ao nos deparar com o
conceito de aprendizagem exposto por Carlson (2002), citado por Cunha (2011),
que é o processo pelo qual as experiências mudam nosso sistema nervoso e, desta
forma, também mudam nosso comportamento. Na página 197, expõe que a memória é
parte fundamental da aprendizagem, a repetição dos atos, sons, imagens ou
quaisquer outras situações tem um forte efeito na sua apreensão. Já na página
202, afirma que a inteligência é produto entre a formação do cérebro
estruturada durante a sua formação (genética) e a interação com o meio ambiente
(afetividade, estímulos, nutrientes), aos quais todos nós estamos sujeitos. Esse
conceito é de grande importância para o ensino escolar aos portadores de Síndrome
de Down. Suas deficiências são concretas, ou seja, orgânicas e biológicas, mas
de acordo com a interação com o meio e a forma que são tratados podem levar ao
aprendizado efetivo de conteúdos e conceitos, mudando sua estrutura cerebral.
Assim sendo, cabe a psicopedagogia observar, pesquisar, buscar
termos e orientar os profissionais da educação ao trabalhar com portadores da
Síndrome de Down.
Para Salvador et al (1999), o desenvolvimento do indivíduo se dá
na interação entre a bagagem biológica-hereditária e a bagagem cultural própria
do grupo em que está inserido, fortalecendo mais as condições de aprendizados
de alunos com Síndrome de Down.
¹Professor Potiguara, em
sua terceira aula para o curso de Psicopedagogia Institucional da Universidade
Anhanguera, datada de 27.08.2012.
Para Cisto
et al (2010, p.61), citando Nunes e Bryant (1997), lembram que as crianças
precisam ser lógicas e devem entender o sentido lógico do que estão fazendo,
obedecendo a regras e princípios lógicos. Em seus trabalhos Piaget mostra que
as crianças devem captar os princípios lógicos como os de conservação e
transitividade.
Baseando-se
nesse fato e nas conclusões da pesquisa sobre o ITS (Sistema Tutorial
Inteligente) de Groenwald et al (2010), o aluno com síndrome de Down é capaz de
aprender conteúdos e conceitos lógico-matemáticos se o mesmo for apresentado de
forma concreta e se o mesmo conceito for apresentado diversas vezes, reforçando
o conteúdo aprendido. A pesquisa também esclarece que a aquisição do conceito
número se faz de 0 a 9, podendo-se trabalhar dentro dessas especificações.
Quando
o contexto do aprendizado é a leitura e escrita, o profissional pedagogo que
acompanha o aluno com Síndrome de Down deve estar atento as fases da construção
da escrita expostos por Emilia Ferreiro (1999) e parar de acreditar que devem
buscar métodos e cartilhas para seguir, conforme exposto por Moraes e Kubaski
(2009), é necessário que o professor interaja, conheça e perceba seu aluno,
buscando seus próprios métodos, apoiando-se nas teorias do conhecimento
existentes, lembrando que o trabalho deve ser feito sempre dentro da realidade
de cada aluno.
CONSIDERAÇÕES
Faz-se
necessário que os professores e a direção escolar reestruturem suas visões com
relação à inclusão e aos métodos, pois o método é algo variável e não deveria
ser o foco de processo de ensino-aprendizagem, mas sim o próprio processo.
Como
todo processo o aprender ocorre de maneira única para cada ser humano, não é
linear, sofre alterações constantes como nos apresentou o Professor Potiguara
em sua aula de Desenvolvimento do Pensamento Lógico Matemático, referindo-se a Madeimoselle
Ramén, que afirma que o conhecimento se dá como se fosse bico de serra, uns
mais altos que os outros, uma hora o aluno sobe outra desce.
A
conclusão é de que o professor precisa estar amparado pelo saber científico
para desenvolver-se em sala de aula, seja com alunos padrões ou com alunos de
inclusão, vivemos numa era onde o aprender é constante, as informações estão
soltas em todos os meios de comunicação e a apropriação de conteúdos e
conceitos de qualidade se faz necessário, logo a
intervenção de
um profissional especializado e com especificações de fundo científico e de
forma consciente é muito importante para a realização do mais importante de
todos os processos escolares que é o aprender-ensinar.
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