terça-feira, 3 de janeiro de 2017

“Se Fazer Sozinho” e a Aprendizagem de Vigotsky

Nessa semana me peguei pensando num assunto que vez ou outra surge em minha mente, quase sempre por causa de uma conversa com pessoas conhecidas ou apenas uma conversa alheia que chega aos meus ouvidos, com um tema recorrente que é a “Pessoa que se faz Sozinha, sem a ajuda de absolutamente ninguém”.

Normalmente essas histórias são ricas e cheias de superação, onde o personagem principal sai de uma condição desfavorável, passa por dificuldades mil e chega a sua meta desafiando todas as improváveis condições e vence.
Mesmo compreendendo o contexto dessas histórias e situações, quando ouço essa frase em minha mente vem a questão social do ser humano e sua inabilidade com as questões emocionais.

Não estou dizendo que essas histórias não são reais ou que essas superações não têm valor, longe disso, apenas que mesmo que indiretamente é impossível alguém se fazer sem no mínimo o exemplo de outra pessoa.

Somos seres sociais, ou seja, nossa formação humana depende de outros seres humanos, e para vivermos como tal sempre iremos nos espelhar em outros seres humanos, seja de forma positiva ou negativa, algum exemplo nos impulsiona a seguir (ou não) nossos objetivos.

Segundo a Teoria de Lev Vigotsky sobre A Construção do Pensamento e da Linguagem, o pensamento e a linguagem trata-se de uma atividade de fundo social na qual o homem se forma e interage com seus semelhantes e seu mundo numa relação intercomplementar de troca. A relação entre o homem e o mundo passa pela mediação do discurso, pela formação das ideias e pensamentos através dos quais o homem apreende o mundo e atua sobre ele, recebe a palavra do mundo sobre ele e funda a sua própria palavra sobre o mundo.

Pensando na linguagem das crianças podemos afirmar que os adultos acabam direcionando-as pelas suas palavras e com uma linguagem já cheia de significados prontos, os adultos fornecem o caminho para as crianças seguirem, mas nunca como pensar, isso é e sempre será próprio de cada fase da construção intelectual de cada um.

Na prática a criança não é inteiramente livre no processo do desenvolvimento dos significados da palavra e da linguagem de uma forma geral, pois o mundo em que é inserida já é pronto e enquanto humanidade precisamos repassar tudo o que desenvolvemos até aqui para dar continuidade a nossa espécie.

Podemos ver o mesmo comportamento em outras espécies, como quando uma gata ensina seus filhotes a se limpar ou a caçar, está ensinando suas crias a serem o que são, nesse caso gatos, é o que fazemos, ensinamos nossos filhos e descendentes da nossa espécie a serem humanos, com toda a carga que temos de descobertas sobre o mundo em que vivemos, preparando-os para que em algum momento façam mais descobertas e atuem sobre esse conteúdo modificando-o e enriquecendo-o tanto em qualidade como em quantidade, podemos afirmar que a diferença crucial é a nossa organização social, repassamos nossa experiência num primeiro momento em uma pequena sociedade chamada núcleo familiar e em outro momento nas escolas.

Após todo esse embasamento em Vigotsky pergunto:
- Podemos nos fazer sozinhos?

Não, sozinhos de tudo não, no mínimo exemplos a seguir nós teremos, pode não ser em casa, pode não vir dos pais, mas de algum amigo, vizinho, parente e até de pessoas a distância como na televisão, mas sempre haverá algo que estimule a criança a seguir aquele exemplo e a se formar enquanto ser humano e que venha de outro humano.

Sei que essa fala “Se fazer sozinho” vem carregada de emoções, como perda, solidão e abandono, que ela significa muito mais do que apenas a nossa linhagem humana, o que me leva a falar mais uma vez sobre minha visão da aprendizagem e a impressão que colhemos do mundo, a princípio feita por via afetiva-cognitiva.

Logo, impossível separar nossa construção humana dos nossos sentimentos e emoções, bem como os sentimentos do raciocínio lógico ou habilidades motoras, enfim, o ser humano, a meu ver, tem como porta principal o sistema emocional para realizar absolutamente qualquer coisa, ele sente algo primeiro, depois processa e age.

Somos biológicos por condição anatômica e fisiológica, sociais por desenvolvimento enquanto espécie e emocionais por condição mental e/ou espiritual (sendo que não nada aqui de contexto religioso).

Espero que tenha me feito compreender.

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