segunda-feira, 20 de junho de 2016

Educadora de 83 anos defende mudança radical no ensino

Com quase 60 anos dedicados ao magistério, Léa Fagundes é requisitada em todo o território brasileiro para conferências e formações de docentes

17 JUN2013 07h38 - atualizado às 07h38

magistério e mais de 20 ao estudo da informática na educação. Inovadora desde sempre, a coordenadora do Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) defende um modelo de inclusão digital nas escolas em que o aluno seja protagonista do aprendizado. "É uma mudança total de paradigma. O estudante deve programar o computador, se apropriar da linguagem e se tornar investigador", afirma a professora, requisitada em todo o território brasileiro para conferências e formações de docentes.

Léa Fagundes é pedagoga e psicóloga voltada à área de informática educacional

Foto: Flávio Dutra, UFRGS / Divulgação

Assessora do Ministério da Educação (MEC), pedagoga e psicóloga, Léa aponta que o Brasil construiu uma história significativa no que diz respeito à inclusão digital nas escolas - história da qual ela é parte ativa -, mas critica a interrupção de programas educacionais por questões políticas e estruturais, como ocorre na transição de governos. A gaúcha indica também que a resistência de educadores à tecnologia e o medo da quebra de hierarquias em sala de aula é outro entrave enfrentado. "Na escola, as crianças são tratadas quase ditatorialmente", argumenta.

Confira abaixo a entrevista completa.

Terra - Em que nível o Brasil está hoje no que diz respeito à inclusão digital e ao uso de ferramentas computacionais em sala de aula? 
Léa Fagundes - O Brasil é um continente, então não dá para dizer "no País". No Amapá, é uma realidade, em Curitiba é outra. Mas, apesar de todas as diferenças, nós temos uma unidade cultural, falamos a mesma língua, e os programas dos currículos são semelhantes. Os NTEs (Núcleos de Tecnologia Educacional) e a formação dos professores que veio junto com eles avançaram muito o Brasil nessa área. Chegou um momento em que a gente teve que criar cada vez mais núcleos e, com eles, mais laboratórios (de informática). Acontece que nós não queríamos mais laboratórios, porque isso não resolve a questão da inclusão.

Terra - Por que os laboratórios não são uma solução? 
Léa - No mundo, e aqui no Brasil inclusive, quando começou a se falar em inclusão digital nas escolas foram instalados laboratórios. Por quê? Porque os computadores eram muito caros, então não podia ter fartura, não era possível um por aluno, e laboratórios eram mais viáveis. Mas qual o problema deles?

Na maior parte das vezes, são formados técnicos para trabalhar no local, mas o professor de sala de aula não vai ao laboratório e não se especializa. Então os alunos vão ao laboratório, depois voltam e o docente manda que eles se sentem um atrás do outro e abram o caderno, não há integração entre os momentos. Por isso nos encantamos com a ideia do OLPC (One Laptop Per Child, projeto de computador educacional iniciado no Massachusetts Institute of Technology, hoje desenvolvido em uma associação de mesmo nome, presidida por Nicholas Negroponte).

Terra - Quais são as principais diferenças da inclusão digital nas escolas no Brasil em relação a outros países? 
Léa - A principal diferença entre nós e países da América do Norte e da Europa é que aqui adotamos um programa em que as crianças podem programar o computador, e não serem ensinadas por ele. Nós defendemos a linguagem Logo (criada por Seymour Papert, um dos idealizadores do OLPC) para a informática na educação. Na maior parte do mundo, são colocados computadores e um sistema para ensinar a criança, como se fosse o conteúdo passado por um professor para o aluno. Esse é outro paradigma, é uma mudança completa na escola. O estudante passa a ser investigador e a programar o computador. Agora tu me perguntas: o Brasil está melhor nessa área? Sim. Mais do que todos os países? Não. Mas, por exemplo, na França, formaram mil professores, e o computador era barato porque era nacional. Mas esse modelo também era tradicional, de professor que tem que saber mais que aluno. Para mim, não é assim, vejo o aluno como um pesquisador, e o professor, um orientador.

Terra - Como deve ocorrer essa mudança? 
Léa - É importante destacar que a questão não é aprender a mexer no equipamento, nem aprender conteúdo de sala de aula no computador, é o aluno programando, pesquisando, isso exige um currículo totalmente novo. O currículo, que a gente luta para transformar, tem de ser interdisciplinar e não precisa ser sequencial. Por exemplo, quando o aluno chega para o professor e diz que tem curiosidade de aprender determinado tema, e o professor responde que não pode, porque o conteúdo é do próximo ano, isso prejudica o aprendizado. O aluno tem que ter curiosidade no que é ensinado, por isso o problema apresentado tem de ser instigante, interessante. Os alunos surpreendem a gente.

Terra - Quais são os entraves enfrentados na inclusão da tecnologia no ambiente escolar? 
Léa - Nós temos bons programas nacionais de educação e informática, e nos últimos 30 anos tivemos muitos projetos de visão nacional. O problema é que, quando mudam os governos, os projetos sofrem muito, porque as pessoas que entram na nova gestão não têm conhecimento suficiente ou não querem prestigiar o partido que antecedeu, então temos tido dificuldade com a continuidade. Por outro lado, o Brasil tem uma história, e ela, apesar de interrupções, não estacionou, está avançando. E eu acredito que futuros professores vão mudar esse cenário, pois são pessoas novas que gostam de tecnologia e não têm medo.

Terra - A senhora percebe resistência de educadores ou das próprias instituições em relação às tecnologias? Há medo de romper hierarquias? 
Léa - Hierarquia é a palavra-chave. Na escola, as crianças são tratadas quase ditatorialmente. Sentam-se em fila e, caso se virem, têm que justificar. Os professores dizem "não olha para o lado, não cola do colega". A cola deveria ser obrigatória. Cola é cooperação. É uma criança colocando a dúvida, e outras tentando ajudar. Você tem avaliações em que uma só resposta é certa, e todos os alunos têm que dizer a mesma coisa. O problema não é ter apenas uma resposta certa, mas eles (os estudantes) têm que testar essas respostas e ver qual resolve melhor o problema. Mas o pior são os cursos de licenciatura, que formam professores, mas não se atualizam.

Terra - A mudança desse paradigma deve começar na universidade? 
Léa - Parece que isso é ilusão, sonho. Os professores que ensinam nas universidades são doutores, famosos, escrevem teses científicas e livros. Eles não querem dar o braço a torcer e dizer "nós temos que aprender de novo". Então o computador não entra nas licenciaturas, que é onde deve estar. As melhores licenciaturas são aquelas em que os cursos abraçam a tecnologia. Ser professor é um encantamento, e é um encantamento também em poder se atualizar.

Cartola - Agência de Conteúdo - Especial para o Terra

http://noticias.terra.com.br/educacao/educadora-de-83-anos-defende-mudanca-radical-no-ensino,90923e060f34f310VgnVCM3000009acceb0aRCRD.html

terça-feira, 7 de junho de 2016

É inútil ter certeza

Uma questão que tem estado rotineiramente em meu pensar nos últimos meses é sobre a facilidade em que as pessoas colocam para fora conceitos prontos.
Uma frase pronta que foi lida numa rede social aqui, numa revista ali, numa pichação acolá, e que foi entendida a seu modo, com as suas características próprias advindas de suas vívidas experiências e que lhe geraram sentimentos e emoções únicas, a ponto de inflexibilizar o raciocínio sobre outros argumentos e outras visões.
Argumentos e visões as vezes com rigor científico, e mesmo assim, nada de mover a ideia um pouquinho para o lado e pensar: - Será?
 "A dúvida é o preço da pureza e é inútil ter certeza”. Trecho da música Infinita Highway do Engenheiros do Hawaii.
A vida é um grande mudar, e por princípio da própria vida é um grande evoluir, mesmo quando parece andar para trás há mudança, não existe involução na natureza, pode até existir momentos de pausa, mas nunca de retrocesso, a natureza dá um passo por vez, e tolo aquele que não se vê como parte da natureza.
Somos naturalmente parte da natureza, parte do planeta, parte do todo.
E o que acontece com os animais, plantas, com o ar, água, com o planeta, com as pessoas próximas ou não a mim, de alguma forma vão me afetar, queira eu perceba ou não.
Faz parte da vida. É um ecossistema. Não dá para fugir. A natureza também não dá saltos, reforçando: um passo por vez.
Como poderíamos enquanto humanos que somos ter certezas tão enraizadas em nosso pensar, se todos os dias acordamos diferentes, nunca estamos iguais ao que fomos 8 horas antes de dormir, inclusive o que sentimos antes de adormecer difere do que sentimos ao acordar.
É inútil ter certeza sim, porque essas nos atam as mãos, nos trancam em nós mesmos e nos impedem de ver além, de buscar na mudança diária a transformação de um todo justo, mais belo e nobre, mais feliz, para os animais, as plantas, o ar, a água, o planeta, as pessoas – humanos, assim como eu – que tateiam na escuridão do desenvolvimento em busca de ser quem se é.
E a educação com isso?
Tem muitooooo a ver, mas isso eu vou deixando claro no decorrer dos textos que vou deixando por aqui, afinal educar, apreender e ensinar fazem parte estrutural do ciclo da vida e não é um conceito fechado, não dá pra encerrar esse ciclo de ensino-entendimento-aprendizagem-criação numa caixinha cheia de respostas, tudo muda, cada momento é único, e não dá pra continuar usando hoje o que deu certo ontem.
Fiquei muito tempo na espera pra escrever neste blog desde a sua criação até o presente momento, creio que estava em processo de fermentação, os assuntos são diversos, mas o tópico é a evolução para a educação.
Espero que apreciem.

Fiquem bem (: 

quinta-feira, 2 de junho de 2016

E a nossa educação?

Creio que tenho um pensamento alinhado com outro mundo ou outra época,  não compreendo algumas atitudes e pensamentos atuais, principalmente quando estes advém de profissionais da área de humanas como de pedagogos.
Explicando… Sei que hoje em dia,  as coisas são bem  complicadas em sala de aula, existe muito desrespeito e falta de parceria entre escola e família,  são muitos casos de desentendimento entre aluno-professor-família,  e são muitos lados pra uma mesma moeda.
Mas tem algo que me incomoda profundamente, e que vejo sempre rolando nas redes sociais: A educação é para os pais, à escola cabe o ensinar.
Como?
Pessoas que estudaram pedagogia e que trabalham com a formação da mente humana, como essas pessoas conseguem dissociar dessa forma o ser humano?
O que esses profissionais querem?
Robozinhos que cheguem na escola programados para aquele momento de aprender, só,  ponto final.
Esperam que todas as famílias tenham uma educação nobre com alto índice de ética e moral?
Isso além de utopia é ignorar toda a história da educação do nosso país, é deixar claro o quanto ignora a deficiência sócio-cultural-economica desse nosso Brasil.
Concordo que todos os pais deveriam ensinar a seus filhos a não bater, não roubar, não jogar lixo no chão, e a trocentos outros “nãos” vestidos de grande dose de bom senso, mas essa não é a realidade.
Ninguém pode dar aquilo que não tem, simples assim. Não podemos exigir que os pais deem o que não tem pra dar.
Adianta ficar nesse jogo de empurra-empurra onde a escola diz que a responsabilidade é dos pais e os pais acham que a responsabilidade é da escola?
Não não adianta, a única coisa que vai adiantar é o mais esclarecido mostrar ao menos esclarecido como funciona, mesmo que pra isso tenhamos que inverter algumas situações que seriam óbvias: - Vamos munir as crianças de educação para que elas levem essa educação aos seus pais.
Ideia simples, possível e funcional.
Vamos embutir diariamente na cabecinha daquela criança que os pais ensinam a bater ou naquela que os pais ensinam a pegar o que não lhes pertencem (ensinam pelas ações, na maioria das vezes) ou naquela que os pais lhe ensinam a lei do mínimo esforço,  dentre inúmeros outros casos, que ser gentil é a coisa certa a ser feita, que trabalhar faz bem não só pro bolso, mas pra toda a sociedade, que pegar o que não é nosso gera problemas as vezes sérios as pessoas, que devemos ver no outro a nossa semelhança, que o crescimento do país é  o nosso crescimento também, que respeito é muito mais que falar obrigado, por favor, sim senhor, que respeito é não jogar lixo na rua, é preservar rios, parques, placas, monumentos, é ouvir música num volume que não ultrapasse os limites da minha casa ou carro, porque se eu tenho o direito de ouvir música meu vizinho tem direito ao silêncio, e por aí vai, a lista é imensa beirando ao infinito.
Resumindo, é o momento de educarmos sim, de mudar esse discurso ultrapassado de sua culpa e arregaçar as mangas e trabalhar para uma educação para o futuro, pois se queremos um mundo melhor precisamos plantar esse mundo em nossas crianças e o melhor lugar pra isso é a escola.
Fiquem bem (:

Ausência de comunicação na família e os reflexos na convivência social

ANAIS DO CONGRESSO INTERNACIONAL MOVIMENTOS DOCENTES Volume VI – 2021  pg. 733 ISBN: 978-65-88471-34-0 DOI: 10.47247/VV/MD/88471.34.0   RESU...