quarta-feira, 12 de abril de 2017

A Inteligência


A inteligência é algo tão curioso para o ser humano que as vezes se torna até engraçado como é vista, pensada e pesquisada. Acreditem ou não, mas não existe uma definição única sobre inteligência e a cada época surgem algumas definições sobre a ‘dita’. Houve época que os inteligentes eram os que tinham o maior crânio (sim, os cientistas mediam as cabeças!!!), houve época em que as profissões eram escolhidas por testes e os resultados obedecidos, mesmo que a pessoa não tivesse a menor habilidade ou vontade de exercer tal profissão, os testes ganhavam a guerra. E mais recente em nosso mundo e ainda utilizado temos as testagens da psicologia, onde o Q.I. é um dos mais conhecidos, havendo escalas e denominações diferentes para idades e situações.

Confesso que tenho um tanto de receio de testes padronizados, mas como esse não é o foco desse artigo, vamos seguir em frente.
Vou especificar algumas definições científicas acerca da inteligência, para que possam ver o quanto o assunto é extenso.

·        Para o Dicionário Aurélio:
1.     Faculdade de aprender, apreender ou compreender; percepção, apreensão, intelecto, intelectualidade.
2.     Qualidade ou capacidade de compreender e adaptar-se facilmente; capacidade, penetração, agudeza, perspicácia.
3.     Maneira de entender ou interpretar; interpretação.
4.     Acordo, harmonia, entendimento recíproco.
5.     Destreza mental; habilidade.
6.     Capacidade de resolver situações problemáticas novas mediante reestruturação dos dados perceptivos.

·        De acordo com a Wikipédia é a capacidade mental de raciocinar, planejar, resolver problemas, abstrair ideias, compreender ideias e linguagens e aprender. Embora pessoas leigas geralmente percebam o conceito de inteligência sob um âmbito maior, na Psicologia, o estudo da inteligência geralmente entende que este conceito não compreende a criatividade, o caráter ou a sabedoria. Conforme a definição que se tome, pode ser considerado um dos aspectos da personalidade.

·        Já Alencar e Fleith (2001) citam definições dadas por pesquisadores da área em um simpósio em 1921 como exemplo do pensamento da época, sendo eles:
1.     Colvin explica que é a habilidade de aprender a ajustar-se ao meio ambiente.
2.     Haggerty é um dos grupos de processos mentais complexos tradicionalmente definidos, como sensação, percepção, memória, imaginação, discriminação, julgamento e raciocínio.
3.     E para Woodrow é uma capacidade adquirida.

·        Freeman e Guenther, neurocientistas (2000), esclarecem que a proposta sobre inteligência mais aceita é a de que é uma maneira individual de organizar e usar conhecimento, e que depende do ambiente físico e social onde se vive.

·        Gardner (2001) definiu em 1983 a inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos valorizados em um ou mais cenários culturais. Sendo que após quase duas décadas de pesquisa, em 2001, define inteligência como um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados numa cultura.

·        Segunto Cury (2006) a inteligencia é um conjunto de estruturas psicodinâmicas derivadas do amplo funcionamento da mente. É a capacidade de pensar, se emocionar, ter consciência.

·        E por fim, meu conceito (2013), inteligência é uma característica peculiar do pensamento crítico voltado para a criação do novo indenpendente da necessidade; conceitualização daquilo que já existe, e a solução de problemas desde os mais simples na vida diária como os que envolvem a humanidade de forma geral. Tanto a criação, a conceitualização como a resolução podem atuar nas mais diversas áreas como administração, finanças, literatura, matemática, ciências, filosofia, artes, música, expressão corporal e emocional, dentre todas as áreas de atuação do ser humano.

Pensando essas questões podemos concluir que mesmo nesse momento histórico onde tanto sabemos, não conseguimos compreender como um processo inerente a todos os seres humanos funciona plenamente; o cérebro humano opera em seus detalhes e possui capacidades desconhecidas a nós que fazemos uso diário dele, quão poderosa pode ser essa ferramenta?

Acredito que haja infinidade de possibilidades para o nosso cérebro, capaz de adaptações e evolução, e possivelmente expansão, como saberemos? Só o tempo nos dirá, temos que continuar nossa linha histórica, simples assim.
Em termos de senso comum também há várias formas de se ver a inteligência e uma bem comum é separar a pessoa inteligente do esperto, classificando a esperteza num nível diferente de habilidade, a pessoa inteligente é aquela que vai bem na escola e tira notas A ou 10 em tudo e o esperto é aquele que se vira bem quase sempre sem estudar e que sempre dá um jeitinho para resolver situações no dia a dia.

Infelizmente esse senso comum aliado a alguns conceitos científicos antiquados acabam por criar situações desconfortáveis pra muita gente. Presenciei alguns episódios onde pais dividem as qualificações dos filhos quanto a inteligência, denominando um de inteligente e o outro de esperto.
Como crescem essas crianças, sendo diariamente reforçadas por conceitos errôneos de capacidade intelectual?

Provavelmente uma crescerá com excelente auto estima com relação a sua capacidade intelectual, cognitiva e acadêmica, e a cada boa nota mais comprovação de todas as afirmações já feitas nesse sentido.
A outra criança provavelmente crescerá acreditando que é boa em se safar das situações, se perceberá com um bom jogo de cintura na resolução de problemas e passará sempre raspando nas médias escolares, e a cada 5,0 que tirar estará reforçando o que lhe é dito em casa.

É preciso melhorar a percepção que temos do outro e das capacidades desse outro, seja ele nossos filhos, vizinho, amigo, aluno, dentre outras formas sociais de convivência, cada vez que criamos esse tipo de conceituação sobre como o outro é e onde ele se encaixa estamos rotulando uma pessoa e a convencendo que ela é dessa forma, fazendo-a viver dentro dessa caixa por muito tempo de sua vida, como se essa pessoa fosse desprovido de emoções e tudo aquilo que recebe do mundo fosse apenas uma base de dados.

A inteligência humana é muito mais do que tirar um 10 na escola, é muito mais do que acertar na profissão, de ganhar dinheiro, a inteligência envolve inúmeras capacidades que vão desde conseguir fazer o planejamento para o almoço até se manter vivo com todas as situações que podem ocorrer em um dia comum de alguém, passando por inúmeras variáveis e não deveria de forma alguma estar sob o julgo ou medição de ninguém, pois tudo isso vai depender da construção de vida, das condições ambientais que foram oferecidas a essa pessoa, o meio em que se cresce influencia muito, as emoções que permeiam nosso ser caracterizam nossas expectativas e nossa visão de mundo, logo nossa percepção é baseada em fatos que nos foram entregues, ensinados e reforçados constantemente e aliados ao nosso sentir, basta uma crença corruptiva para que nosso sistema entre em falência.

A ciência precisa separar e fragmentar as situações para estudo e compreensão, e isso é sensacional, mas vejo que antes de entregar o resultado é preciso reconstruir e fechar os conceitos de forma a ver o todo e não somente uma parte.


Todos nós somos inteligentes com suas próprias características, somos únicos e capazes de conquistas pessoais e sociais, não podemos ser especialistas em tudo e por isso mesmo cada qual com o seu espaço e diferença, o importante é saber que essas diferenças estão aí para nos completar e não nos afastar, somos animais sociais e essa complementariedade vem bem a calhar, não acham?

Quer me ouvir a esse respeito, acesse esse vídeo no YouTube

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Ser Humano Completo de Wallon - Parte 2



No artigo e vídeo anteriores falei que gosto bastante de Wallon e para reafirmar isso resolvi aprofundar um pouquinho mais em sua visão; acho que ele é pouco refletido principalmente no contexto escolar, vejo que a escola poderia ser muito melhor se o levassem em consideração, se bem que na verdade acho que são muitos os autores a ser levados em consideração, não como técnica ou método, mas como informação sobre como lidar com o ser humano em formação, compreendendo as fases naturais de maturação e desenvolvimento humano,  biológico e psicológico.

Então estamos aqui para uma continuação da psicogênese da pessoa completa de Wallon.

Wallon afirma que a construção do eu corporal é a condição para a construção do eu psíquico e isso começa a ocorrer a partir do segundo ano de vida, mais ou menos por volta do terceiro ano a criança entra em oposição a praticamente tudo o que o adulto oferece a ela, é a fase no não, nesse momento essa criança está se diferenciando do outro e do meio ambiente.
Aqui a criança passa a se reconhecer como diferente do outro e do ambiente em que vive, pois desde o ventre materno essa criança vive meio que em simbiose, a princípio com a mãe e depois com as pessoas ao seu redor, inclusive com seu meio ambiente e objetos que a cercam.

Nessa fase de diferenciação é muito importante que a criança perceba-se bela e amada, pois ela está construindo a sua autoimagem e percepção corporal dando início a sua formação  psíquica, ou seja, quem se é, e para se reconhecer e se perceber no futuro como uma pessoa inteira, de bem consigo mesma e pertencente à algum lugar é nessa fase que devemos dar ênfase as qualidades e percepções sobre si.

A fase do não existe para justamente para que haja compreensão do que 'eu' quero para o que o outro quer. Mesmo que a criança queira o que está sendo oferecido a ela, a princípio ela responde não, exemplificando: Quer almoçar? - Não! Mas você deve estar com fome, já é horário do almoço, quer almoçar? - Não! Hummmm, eu fiz batatinha que você gosta. - Tá bom, batatinha!

Essa crise de oposição volta a ocorrer na adolescência de outra forma, essa fase apoia-se em argumentos intelectuais e nos aspectos emocionais, o jovem sente a vida intensamente, mas consegue refletir e argumentar sobre o que sente. Essa fase ocorre quando o jovem precisa reconstruir a sua personalidade, preparando-se para ser adulto, ele expressa seus sentimentos com todo o corpo, lembrando que nessa fase seu corpo está fervilhando com os hormônios e as mudanças, preparando-se para a reprodução e amadurecimento.
Nesta fase mímicas, gesticulações, gritos, altas gargalhadas e movimentações físicas, fazem parte do cotidiano do jovem adolescente, que está reconstruindo a sua identidade, é como se tudo o que recebeu do mundo (dos pais, família, escola e comunidade) até aqui, fossem postos a prova e esse jovem precisa reorganizar essas informações para consolidá-las ou renová-las.

Passa a amar o desconhecido e as novidades do mundo, é como se uma grande porta se abrisse e ele percebesse que o mundo é muito maior do que era antes, somando-se a intensidade dos sentimentos e hormônios, tudo o que está do lado de fora se torna, por demais, atrativo .
Para Wallon esse período confere ao jovem uma capacidade de representar mentalmente uma pessoa, uma cena ou uma situação é ampliada de tal modo que o limite entre o real e o imaginário torna-se bem pequeno. A criatividade está altamente favorável.

Sendo essa uma fase de muita curiosidade e descobertas é de se pensar normal ser uma fase de oposição, pois descobre um mundo bem maior do que o que lhe foi oferecido até então, que existem coisas diferentes a serem descobertas e provadas e que pode ser que ele prefira outras vertentes que não somente aquilo que lhe foi oferecido. Existe um lado muito positivo nessa fase que se abre para o conhecimento de outras culturas e pessoas, ampliando os conhecimentos e possibilidades, ainda mais na atualidade, mas há também as curiosidades negativas como a curiosidade para as drogas e outras situações.

Creio que de posse dessas informações é possível diminuir os conflitos entre adultos e adolescentes, bem como em sala de aula.

No que tange a afetividade, para Wallon as emoções são reações organizadas e que atuam sobre o sistema nervoso central, principalmente no primeiro ano de vida. Os adultos por exemplo costumam utilizar o pensamento antes de reagir a alguma emoção, ou seja, existe uma ponderação, que a meu ver passa pelas experiências, por toda uma aprendizagem já construída na vida, ponderando a necessidade de reação.
Lembrando que mesmo no adulto nem sempre isso ocorre, há emoções que são reativas de imediato, não há tempo hábil para refletir, como numa situação de susto intenso.
Sendo assim, as emoções estão relacionadas ao próprio ser, ou seja, ao corpo físico.

As emoções são acompanhadas de alterações orgânicas como aceleração dos batimentos cardíacos, mudanças no ritmo da respiração, dificuldades na digestão, secura na boca, etc, além de alterações faciais e posturais e na execução dos gestos, perceptível para quem os vê, ou seja, todas as emoções estão vinculadas as alterações do tônus muscular.

Com a evolução das etapas, o recurso da fala e a representação mental no indivíduo faz com que as reações afetivas possam ser provocadas por situações abstratas e ideias, e ser expressas por palavras e não somente por atuação muscular. É a linguagem em benefício da afetividade.

Neurologicamente falando, a função tônico-postural é responsável pela regulação da musculatura e está a serviço da expressão das emoções e atuam também como produtoras de estados emocionais criando assim um estado de reciprocidade entre o movimento e a emoção.
Outro ponto importante sobre a postura emocional do corpo é que essa atividade do tônus muscular permite que tenhamos consciência do nosso próprio estado emocional e do outro também.

Wallon afirma ainda que a emoção é a forma primária do indivíduo de adaptação ao meio e mais a frente tende a ser suplantada pelo intelecto. O intelecto é objetivo e as emoções podem afetar essa objetividade e diminuir o desempenho intelectual devido a subjetividade emocional.

A meu ver o ser humano sempre sente primeiro, mesmo na fase adulta, mas a partir da adolescência passa a modular esse sentir através do refletir, capta pela emoção e a pensa, argumenta consigo mesmo e depois transforma em palavras ou gestos, comunicando, expressando esse sentimento já pensado. Lembrando que se a emoção for intensa ou a partir de um susto, por exemplo, a resposta física é imediata;
E, além de ter como primeira porta para o mundo o sentir, desde o útero já existe conexão com o cognitivo, não de forma consciente, mas tudo o que é sentido já é registrado pelo cognitivo para que se crie uma rede neuronal dessas experiências e sensações que com o tempo serão conscientes pelo indivíduo.

Heloisa Dantas diz que a razão nasce da emoção e vive da sua morte.
Vejo que essa frase resume bem o 'pacote' de explicações de Wallon nesse momento.

A linguagem é o instrumento e o suporte indispensável aos progressos do pensamento. A linguagem exprime o pensamento ao mesmo tempo que age como estruturadora do mesmo.
O impacto da linguagem sobre o desenvolvimento do pensamento e da atividade global da criança é imenso.

Pensando na motricidade, que para Wallon é a expressão física da afetividade, podemos afirmar que a atividade muscular existe mesmo sem deslocamento do corpo no espaço. A musculatura possui função cinética (movimento) e função tônica (postural) determinado pelo tônus muscular, ou seja, atua sobre si mesmo, através de grupos musculares que se contraem e relaxam sustentando a postura.
É nesse momento que minha outra área de atuação profissional, a fisioterapia fala por experiência, a postura do sujeito fala muito sobre o que se passa internamente em seus processos psíquicos, não só fala, mas deixa marcas registradas como vícios posturais, ou seja, sempre que o indivíduo for pensar sobre a sua vida financeira, por exemplo, ele adquire a mesma postura de reflexão, ou sempre que for ler o jornal tem uma postura adquirida para esse momento também.
O indivíduo consolida certas posturas para certos tipos de reflexões, o que infelizmente pode levar a lesões consideráveis no corpo, como escolioses, dentre outras.

Resumindo a motricidade é a expressão através do corpo do que ocorre nos processos internos do indivíduo, tanto no âmbito afetivo como racional, sendo assim, temos a noção de que não somente o fator intelectual que ativa a cognição, mas a emoção, a postura e o movimento também, tanto no movimento de dentro para fora, como de fora para dentro.

Wallon dá o nome de disciplinas mentais para o momento em que o indivíduo passa a ter o controle voluntário dos movimentos através do pensamento, do seu querer realizar, ocorrendo por volta dos 5 aos 11 anos. E afirma que a escola  é muito importante na consolidação das disciplinas mentais, ou seja, nesse refinamento humano que sai da instabilidade do psicomotor para os atos mentais onde o movimento é pensado.
Sendo bem nessa fase que a escola precisa atuar de forma mais equilibrada sobre a psicomotricidade

A psicogênese da pessoa completa de sua teoria suscita uma prática que atenda as necessidades da criança nos planos afetivo, cognitivo e motor e que promova o seu desenvolvimento em todos esses níveis.

A ótica walloniana constrói uma criança corpórea, concreta, cuja eficiência postural, tonicidade muscular, qualidade expressiva e plástica dos gestos informam sobre os seus estados íntimos. Supõe-se que a sua instabilidade postural reflete nas suas disposições mentais, que a sua tonicidade muscular dá importantes informações sobre seus estados afetivos.
O movimento é um fator ativo para a aprendizagem em todas as idades, sendo a imobilidade mais um obstáculo do que um benefício.

A atenção e concentração também são possíveis no movimento, pense numa criança brincando e totalmente absorvida pela situação, em total concentração, ela brinca em movimento e está concentrada, pegue essa mesma criança e a coloque sentada olhando para algum objeto de estudo, provavelmente perderá o interesse rapidamente e não ficará concentrada.
Em muitos casos são as variações posturais que permitem a manutenção da atenção na atividade.
Aristóteles nascido a quase 3.000 anos atrás criou um método para suas aulas, chamado de aulas peripatéticas, onde caminhava com seus alunos enquanto explicava, pois para ele o fluxo dos pensamentos fluia melhor.

O meio escolar é muito importante para apoiar as diferentes etapas do desenvolvimento e deve ser muito bem explorado. A escola deve planejar suas atividades não só pelo tema, mas pela extensão do seu espaço, planejando e pensando na necessidade de cada fase do ser.

É bom lembrar, que a escola ao possibilitar uma vivência social diferente do grupo familiar, desempenha um importante papel na formação da personalidade da criança. Quanto maior a diversidade de grupos de que participar, mais numerosos serão seus parâmetros de relações sociais, enriquecendo sua personalidade.
Vejo que nesse caso, essas relações a princípio devem ser mediadas, um adulto consciente mediando as diversidades sociais para o enriquecimento dos grupos, ou seja, para que todos os grupos absorvam esse convívio social de forma positiva.

Assim como Wallon dizia, é necessário buscar apoio nas mais diversas áreas do conhecimento humano para oferecer suporte a pedagogia e educação, e não somente na psicologia. Felizmente é preciso ir além quando se trata da lide com o outro, principalmente porque seres estão sendo formados através de toda a experiência que vivem, estímulos positivos bem pensados, podem reconstruir uma nação; e agora me apoiando um pouco em Freud, o exercício da pedagogia e da arte de ensinar, não é para qualquer pessoa, até porque pode ser considerada uma tarefa impossível, pois envolve muito amor, conhecimento e esvaziamento de si.


Espero que tenha me feito compreender, até a próxima (:




quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Ser Humano Completo de Wallon e a Aprendizagem



Como vocês podem perceber tenho escrito e falado muito sobre o ser humano inteiro, sobre globalizar o ser humano, na necessidade urgente de trabalhar uma educação emocional no ser desde o seu nascimento, parte de minha fala vem da teoria de Henri Wallon, médico, psicólogo e filósofo francês do início do século passado e que deixou como legado uma visão humanista do mundo e da educação.
Em 1947 fez as bases da educação francesa tremerem com suas teorias, como a da não reprovação escolar através das avaliações, as famosas provas, levantando a bandeira da afetividade, e que o desenvolvimento intelectual envolve muito mais do que o pensamento lógico.

Fazendo um adendo aqui, sou uma pessoa que defende a progressão da educação, desde que empregada com qualidade e respeito ao entendimento do porquê da não reprovação, do sentido de se utilizar disso enquanto método, coisa que infelizmente não aconteceu e como sempre aquilo que não é compreendido gera problemas incomensuráveis, assim como foi o emprego do construtivismo como técnica, erro profundo e coleção de problemas na educação por conta disso. Mas isso é assunto pra outro momento.

Wallon fundamentou suas ideias em quatro elementos básicos que se comunicam o tempo todo: a afetividade, o movimento, a inteligência e a formação do eu como pessoa. Percebe o movimento e as emoções como atuantes conjuntos e assume que o movimento começa desde a vida fetal.

Se pensarmos que o movimento quase sempre é uma reação, que antes dele existir ocorreu uma percepção, uma emoção e/ou sentimento, um processamento dessas informações para depois como resposta um movimento, por menor que seja, um movimento, a interação do feto com o mundo já está em processo de aprendizagem, de coleta de informações.

Ele também afirma que a criança tem sua própria lógica de pensamento e que esse pensamento é carregado de afetividade, fora do mundo da lógica, pois ocorre por sincretismo, ou seja, a criança reúne todas as informações que possui, reais ou de suas brincadeiras e fantasias e aplica como explicação daquilo que acredita ser algo. Um tanto parecido com as hipóteses de Emilia Ferreiro.

Em ambos os casos, tanto do sincretismo como das hipóteses é com a orientação dos adultos, por meio dos estímulos recebidos sobre o que vem a ser o mundo ao redor dessa criança é que ela passará a compreender os mais diversos assuntos de forma lógica.

Sobre a escola Wallon determina que por ser uma instituição social deve promover a continuidade da socialização e deve desempenhar o papel de integralizar o social e o individual formando ambos. Compreende o ser humano como social e histórico, como ser biológico e material e ainda como emocional, dando maior enfoque nesse ponto, pois para ele, para compreender o pensamento humano é necessário compreender seu emocional.

Venho dizendo desde o primeiro momento, onde determino o ser humano e suas partes que em pleno caminhar do século XXI sejamos incapazes de perceber que somos muito mais do que seres lógicos e racionais, e que nossa educação é muito falha por não trabalhar todos os nossos aspectos e potencialidades, e que para termos um mundo completamente globalizado e rumo a evolução precisamos de seres humanos globalizados, com condições de ver a si e ao outro com respeito e compreensão, de se ver no outro e isso inclui o plano físico e terrestre como nossas ruas e cidades, bem como nossa casa planetária, que infelizmente acaba passando despercebida por grande parcela da humanidade.

A educação emocional, deve existir para orientar o ser humano a ser humano e não para ser útil quando em caso de conflitos emocionais e doenças psíquicas.
E existe tão mais a ser visto e reorientado, que essa é só a ponta do início.

Bem.... Por hoje é isso, até breve!


terça-feira, 3 de janeiro de 2017

“Se Fazer Sozinho” e a Aprendizagem de Vigotsky

Nessa semana me peguei pensando num assunto que vez ou outra surge em minha mente, quase sempre por causa de uma conversa com pessoas conhecidas ou apenas uma conversa alheia que chega aos meus ouvidos, com um tema recorrente que é a “Pessoa que se faz Sozinha, sem a ajuda de absolutamente ninguém”.

Normalmente essas histórias são ricas e cheias de superação, onde o personagem principal sai de uma condição desfavorável, passa por dificuldades mil e chega a sua meta desafiando todas as improváveis condições e vence.
Mesmo compreendendo o contexto dessas histórias e situações, quando ouço essa frase em minha mente vem a questão social do ser humano e sua inabilidade com as questões emocionais.

Não estou dizendo que essas histórias não são reais ou que essas superações não têm valor, longe disso, apenas que mesmo que indiretamente é impossível alguém se fazer sem no mínimo o exemplo de outra pessoa.

Somos seres sociais, ou seja, nossa formação humana depende de outros seres humanos, e para vivermos como tal sempre iremos nos espelhar em outros seres humanos, seja de forma positiva ou negativa, algum exemplo nos impulsiona a seguir (ou não) nossos objetivos.

Segundo a Teoria de Lev Vigotsky sobre A Construção do Pensamento e da Linguagem, o pensamento e a linguagem trata-se de uma atividade de fundo social na qual o homem se forma e interage com seus semelhantes e seu mundo numa relação intercomplementar de troca. A relação entre o homem e o mundo passa pela mediação do discurso, pela formação das ideias e pensamentos através dos quais o homem apreende o mundo e atua sobre ele, recebe a palavra do mundo sobre ele e funda a sua própria palavra sobre o mundo.

Pensando na linguagem das crianças podemos afirmar que os adultos acabam direcionando-as pelas suas palavras e com uma linguagem já cheia de significados prontos, os adultos fornecem o caminho para as crianças seguirem, mas nunca como pensar, isso é e sempre será próprio de cada fase da construção intelectual de cada um.

Na prática a criança não é inteiramente livre no processo do desenvolvimento dos significados da palavra e da linguagem de uma forma geral, pois o mundo em que é inserida já é pronto e enquanto humanidade precisamos repassar tudo o que desenvolvemos até aqui para dar continuidade a nossa espécie.

Podemos ver o mesmo comportamento em outras espécies, como quando uma gata ensina seus filhotes a se limpar ou a caçar, está ensinando suas crias a serem o que são, nesse caso gatos, é o que fazemos, ensinamos nossos filhos e descendentes da nossa espécie a serem humanos, com toda a carga que temos de descobertas sobre o mundo em que vivemos, preparando-os para que em algum momento façam mais descobertas e atuem sobre esse conteúdo modificando-o e enriquecendo-o tanto em qualidade como em quantidade, podemos afirmar que a diferença crucial é a nossa organização social, repassamos nossa experiência num primeiro momento em uma pequena sociedade chamada núcleo familiar e em outro momento nas escolas.

Após todo esse embasamento em Vigotsky pergunto:
- Podemos nos fazer sozinhos?

Não, sozinhos de tudo não, no mínimo exemplos a seguir nós teremos, pode não ser em casa, pode não vir dos pais, mas de algum amigo, vizinho, parente e até de pessoas a distância como na televisão, mas sempre haverá algo que estimule a criança a seguir aquele exemplo e a se formar enquanto ser humano e que venha de outro humano.

Sei que essa fala “Se fazer sozinho” vem carregada de emoções, como perda, solidão e abandono, que ela significa muito mais do que apenas a nossa linhagem humana, o que me leva a falar mais uma vez sobre minha visão da aprendizagem e a impressão que colhemos do mundo, a princípio feita por via afetiva-cognitiva.

Logo, impossível separar nossa construção humana dos nossos sentimentos e emoções, bem como os sentimentos do raciocínio lógico ou habilidades motoras, enfim, o ser humano, a meu ver, tem como porta principal o sistema emocional para realizar absolutamente qualquer coisa, ele sente algo primeiro, depois processa e age.

Somos biológicos por condição anatômica e fisiológica, sociais por desenvolvimento enquanto espécie e emocionais por condição mental e/ou espiritual (sendo que não nada aqui de contexto religioso).

Espero que tenha me feito compreender.

Ausência de comunicação na família e os reflexos na convivência social

ANAIS DO CONGRESSO INTERNACIONAL MOVIMENTOS DOCENTES Volume VI – 2021  pg. 733 ISBN: 978-65-88471-34-0 DOI: 10.47247/VV/MD/88471.34.0   RESU...