terça-feira, 1 de março de 2022

O papel da arte-educação no desenvolvimento da subjetividade nas relações socioemocionais.

DOI:10.34117/bjdv8n1-074 

Recebimento dos originais: 07/12/2021 

Aceitação para publicação: 07/01/2022 


Simone Simões da Silva 

Formação em Psicologia, Fisioterapia e Pedagogia. Especialização em Psicopedagogia Clínica Institucional e Escolar. 

E-mail: fisio.simoes@gmail.com 




RESUMO 


Esta pesquisa nasce do interesse na arte como ferramenta para a educação psicossocial seja no âmbito escolar, social ou familiar; e sua participação para o autoconhecimento e autopercepção, facilitando a compreensão de bloqueios, comportamentos, material simbólico e quaisquer situações conflitivas ao sujeito, que possam impedi-lo de exercer suas potencialidades. O objetivo geral é compreender o quanto a arte pode contribuir para a comunicação pessoal e interpessoal no processo do desenvolvimento humano, e o específico, a atuação na aprendizagem e na sua construção histórica. A pesquisa se fundamentou por pesquisa bibliográfica voltada a disciplinas que se justificam no sujeito histórico, como a psicologia, a arte e expressão e a filosofia. É através do senso estético, desenvolver nossas atividades cotidianas, desde a roupa que vamos vestir ao ambiente que estamos inseridos, utilizamos a sensibilidade e a percepção voltado ao estético. Com tais descobertas, a discussão se volta a hipótese em utilizar essa sensibilidade a favor do desenvolvimento interpessoal e intrapessoal, desenvolvendo a percepção de si, do outro e do entorno, seja pelo jogo de palavras numa poesia, pela figura de linguagem nas letras de uma música, pela inquietação emocional causada pela fotografia, pela construção do senso moral em uma animação ou ainda na produção de um desenho como via projetiva de conteúdos inconscientes. São várias formas de comunicação e linguagem, para as múltiplas maneiras de entendimento e compreensão humanas. Conclui-se que a arte é de extrema importância para o desenvolvimento das estruturas sociais, projetando-se no social o que é próprio da sociedade de tempos anteriores e do vigente, para se projetar no devir. A arte pode ser mediadora na interface do eixo comunicação entre o mundo concreto-público e o abstrato-privado, podendo ser direcionada para educação biopsicossocial na busca de melhorar nossa atuação na sociedade, fornecendo consciência da atuação subjetiva em nossa expressão. 

Palavras-chave: arte-educação, psicologia, comunicação. 



1 INTRODUÇÃO 


Enquanto humanidade estamos sempre em busca de respostas, explorando o mundo geopolítico e o que é próprio ao sujeito, o biopsicossocial. São muitas inquietações e necessidades a serem supridas, seja por curiosidade de funcionamento ou por aperfeiçoamento daquilo que já sabemos. Em analogia ao hominídeo, a sociedade é um grande organismo vivo em que a atuação dos sistemas celulares (sujeitos) produz expressões ora produtivas ora sintomáticas. 

A figura de linguagem utilizada serve para introduzir a proposta desta pesquisa, que visa compreender as dificuldades que a humanidade tem em se expressar e compreender a comunicação com clareza e como a arte pode atuar nos processos psíquicos no processo compreensão/comunicação e a interferência desses processos no ensino-aprendizagem. 

Tratando da forma com que percebemos a arte, BAÉRE et al (2016), esclarecem que historicamente o conhecimento é teorizado como o resultado de informações e experiências mediadas pelos sentidos, é o empirismo buscando na relação entre estímulos físicos e sensações relatadas, a compreensão do funcionamento dos órgãos do sentido. Sob o olhar da filosofia do século XX, os autores citam a perspectiva do filósofo Gilbert Ryle sobre as sensações. Ele afirmava que quando sentimos dores, elas não passam pelos órgãos da sensação, ou seja, ninguém vê, ouve ou toca a dor para identificá-la como dor, as pessoas sentem a dor, dessa forma, as sensações estão relacionadas em como são percebidas pelos sentidos e como se relacionam como os órgãos dos sentidos. 

Dessa forma, quando sentimos algo, físico ou emocional e precisamos explicar essa sensação ou sentimento, precisamos de referências culturalmente comuns aos sujeitos envolvidos no processo dialógico, a fim de se fazer entender. Logo, o mais comum e até sensato, é utilizar das figuras de linguagem, como as metáforas. Os exemplos a seguir, facilitam a compreensão: “É como se aquela imagem atravessasse a tela e penetrasse em minha alma, de tão profunda, uma grande experiência!” “A dor que sentia era como se houvesse duas facas enfiadas em minhas costas enquanto eu me deitava sobre elas!” 

Apoiado nessas figuras de linguagem que o ouvinte pode se aproximar de compreender a subjetividade envolvida na experiência narrada. Os relatos demonstram a experiência e aprendizagem cognitiva, física e subjetiva. Retratados de maneira genérica, porém o mais específico possível, o que foi sentido, apreendido, experimentado, modelado, decodificado e traduzido pelo sujeito, sempre único e específico. A sensação do sujeito saí do íntimo e particular para ser representada por ideias e pensamentos do coletivo. 

MCGUINNESS (2006) demonstra em seu trabalho a importância dos estímulos para o desenvolvimento e do entendimento daquilo que se ouve para que haja a produção da fala. É preciso ter o material biológico/genético bem desenvolvido e a interação verbal com o meio, ouvindo as palavras e ofertando o significado das mesmas, pois uma palavra solta sem contexto e significado é apenas um símbolo, o conteúdo que ela (a palavra) carrega é que vai atribuir o estímulo necessário para haja desenvolvimento linguístico. Estímulos para o desenvolvimento biopsicossocial é a essência da aprendizagem, que atualmente pode ser comprovado com certo grau de requinte pela neurociência, os autores COSENZA E GUERRA (2011), conceituam a aprendizagem como consequência de uma facilitação da passagem da informação ao longo das sinapses, local onde ocorre a passagem da informação entre as células. 

Constata-se que é preciso ter boa capacidade na percepção, compreensão, comunicação e expressão para se fazer compreendido. Toda a humanidade passa por essa experiência na interação com o outro. Nossa comunicação é imperfeita e incapaz de expressar significado e significante, tanto na fala quanto na escrita, precisamos de contexto, explicações, alegorias, entonações, expressões faciais e gestuais; e ainda assim não há garantia de que o outro irá compreender o que se pensa dizer. O referencial de quem recebe a informação sempre passará por seu processo histórico de aprendizagem e compreensão. Um sujeito em estado de felicidade ou grande alegria, tenderá compreender uma história de forma positiva, nesse mesmo sentido, um sujeito que se encontra triste tenderá compreender a mesma história negativamente. Educar a percepção e a compreensão com a arte na direção do desenvolvimento intra e interpessoal é uma proposta para um desenvolvimento humano mais pleno e psiquicamente saudável, refletindo seus resultados na família e na sociedade. 



2 OBJETIVOS 


O objetivo desse trabalho é o de compreender como a arte pode colaborar para o desenvolvimento humano e na psicoeducação do sujeito. Tomando como base, a expressão da arte como imagem: foto, vídeo, desenho e pintura. A investigação e pesquisa visaram conferir se pela arte é possível melhorar o desenvolvimento da percepção, das relações sociais e da comunicação intra e interpessoal, resultando em melhores condições de aprendizagem e compreensão do mundo em que se está inserido. A ideia central é compreender o arcabouço sistêmico e psicológico que as imagens podem produzir no cotidiano da aprendizagem e na construção das relações humanas, pela via da comunicação, além de sensibilizar a comunicação ampliando-a além do eu, tendo a arte como facilitadora da aprendizagem de outras áreas do saber. 



3 METODOLOGIA 


Tomou-se como base pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico de autores como Vigotsky, Read, Araújo e Rogers, além do depoimento em vídeo de Ana Mae Barbosa, no Seminário Arte, Cultura e Educação na América Latina em 2018. Os dados foram analisados a partir da hipótese levantada, de que a arte apresentada no formato de imagens, seja uma fotografia ou na produção de um desenho ou pintura, produziria efeitos psíquicos específicos que capacitariam acessar e criar correlações de aprendizagens anteriores, melhorando a relação do ensino-aprendizagem, além de promover melhores condições na compreensão do outro e de si próprio, bem como melhorar a comunicação e expressão. 



4 DESENVOLVIMENTO 


O desenvolvido desse artigo se apoia no interesse dos processos subjetivos que envolvam a arte e a comunicação e a correlação com a expressão e aprendizagem na sociedade, especialmente na educação escolar. A arte e a comunicação estão entrelaçadas e se movimentam livremente em músicas, poesias, animações, filmes, dança, embalagens de produtos, móveis, quadros, roupas, adereços, cartazes, placas, dentre tantos outros. 

FREITAS e FLORES (2016), afirmam que o objetivo da psicologia da arte é o de descrever, interpretar e explicar fenômenos psicológicos nos âmbitos da criação e da apreciação artística. Explicam que a arte é fundamental para a vida humana. Seu uso é amplo, podendo ser excelente estratégia para atividades terapêuticas como ferramenta de acesso as memórias afetivas mais profundas, aparece na forma de metáfora, conteúdo imagético para adequação contextual. A arte está em diálogo com a psicologia e por ela é investigada. 

O mundo atual é naturalmente grafado, permeado por arte e palavras que comunicam, ensinam, projetam, condicionam desejos e regras de vestimenta, comportamento e expressão. Sendo totalmente relevante em nossa sociedade. Para ARAÚJO (2004), nossa linguagem é muito mais do que combinar e decodificar signos, visto que toda a nossa realidade é simbólica, no mais amplo sentido, pois nossa interação com o mundo é baseada na interpretação, seja da cultura ou da natureza, fazemos a leitura do ambiente que interagimos e tornamos compreensível para comunicá-la da maneira mais eficiente possível para o que queremos expressar. Comunicamos algo a alguém com algum interesse e objetivo, somos seres sociais e a comunicação tem em si o valor social, segundo a autora é o discurso em suas múltiplas funções. 

O discurso é uma representação do que queremos expressar, logo não é a expressão completa. Na tentativa de expressar melhor, desenvolvemos várias formas de representar o que compreendemos do mundo. E quando exercemos da palavra para expressar algo, estamos, de acordo com VIGOTSKY (2010), expressando de maneira original o que está contido em nossa consciência. Seu significado é dinâmico, a depender do desenvolvimento do sujeito e da sociedade, pois o pensamento é mutável e se realiza na palavra. Em seu livro da Psicologia da arte, VIGOTSKY (1999), afirma que a linguagem, os costumes e os mitos fazem parte da atividade do psiquismo social. Sendo assim, a arte sistematiza o campo dos sentimentos do ser humano social. Para o autor, a arte transita entre os aspectos da psicologia subjetiva (emoções e sentimentos) e da psicologia da arte (expressão no mundo). 

Para DUCHASTEL (2010), é possível relacionar a obra de arte com a palavra, em que a imagem se relaciona ao conteúdo de sua representação e a palavra está ligada ao conceito. Ambas transmitem algo, comunicam uma ideia, e produzem no sujeito além da simples correspondência com o objeto, possibilitando a correlação entre o objeto e nossas experiências anteriores e com objetos iguais ou semelhantes. Junto dessa memória há o correspondente emocional desenvolvido nessa dialética. Oferece ao sujeito um meio em que possa reconhecer os seus padrões e objetiva que o indivíduo consiga lidar com seus conteúdos internos na direção do equilíbrio. As artes nos permitem, por meio do simbólico, exprimir os segredos mais profundos. 

BUENO e BATISTELA (2015) explicam que possuímos variados tipos de memórias, e que memórias de eventos pessoais como o nascimento de um filho, diferem das memórias dos conteúdos que aprendidos na escola e que possibilitam ao leitor deste texto a compreensão do significado de cada palavra, além do sentido total do texto; aqui, a memória semântica é ativada, é produto da produção de conhecimento da sociedade. No primeiro exemplo, a memória episódica é a que registra momentos específicos das experiências pessoais com detalhes da percepção de cada um, com localização no espaço-tempo e afetos envolvidos. Assim, quando nos lembramos de eventos pessoais nossa memória nos entrega um pacote completo, desde que tenha sido significativo. Nossas memórias podem ser evocadas conscientemente ou por familiaridade, ou seja, frente a situações, cheiros, cores e palavras, dentre outros que evoquem tais lembranças. A arte é capaz de evocar ambas as memórias. 

Nossas lembranças estão condicionadas a signos, símbolos e afetividade, CHEVALIER e GHEERBRANT (2020), afirma que os símbolos revelam segredos do inconsciente, participam ativamente de nossa vida, do momento em que despertamos ao adormecer, dando forma a desejos, modelam comportamentos, estão presentes em técnicas de venda e da política, participam ativamente em todas as ciências da humanidade e de todas as formas de arte. Vivemos num mundo permeado com símbolos geradores de crenças e entendimentos tanto culturais quanto pessoais, ou seja, esses símbolos produzem em cada indivíduo um resultado. O autor defende que o símbolo tem o poder de sintetizar expressão do consciente e do inconsciente, é pleno de realidades concretas, possui emoção, sentimento, sentido e é dinâmico. 

Toda ação humana é relativa aos signos e a significação, ou seja, somos uma espécie que denomina e significa o que já existe como a natureza, o que sente, o que faz, o que cria, interpretando de acordo com sua bagagem, envolvendo tudo o que aprendeu sobre o mundo, sobre si e a sua capacidade de ser um bom comunicador, segundo ARAÚJO (2019). Porém, nada disso é suficiente se não houver o desejo e a intenção de comunicar para explicar algo a alguém. Quando o desejo está envolvido, há questões emocionais que o fundamentam, dessa forma, um sujeito em desequilíbrio emocional pode se encontrar sem vontade e/ou com dificuldade de se expressar. Para tais casos, a arte pode ser utilizada como ferramenta de acesso ao sujeito, como recurso de expressão emocional. Um jeito de encontrar a potência, restaurar a saúde e o desejo onde a dor faz morada. 

Quanto à função da arte na educação, READ (2020), expande o significado cunhado pelo filósofo grego Platão, que afirmou que a arte deve ser a base da educação. Ele define o objetivo da educação a partir do processo dicotômico a que serve, ou seja, o ser humano deveria ser educado para se tornar o que é; e deveria ser educado para se tornar o que não é. No primeiro aspecto o ser humano nasceria com potencialidades, que para si próprio possui caráter positivo, e que devem ser desenvolvidas a partir do suporte de uma sociedade suficientemente liberal, permitindo assim, a variação de tipos. No segundo aspecto, o autor ressalta que as idiossincrasias apresentadas pelo sujeito, que não estejam em conformidade com as tradições da sociedade vigente, devem ser erradicadas pelo professor. Dessa forma, particularidades neurológicas e o desenvolvimento psicossocial oferecem ao sujeito determinados comportamentos e sentimentos como agressividade, ansiedade, ciúme e medo dentre outros, que podem ser aprendidos e controlados, para que se tenha bom desenvolvimento e adaptação social. Quando uma criança chega ao mundo não temos nenhum vestígio de como irá se desenvolver, se comportar ou sentir. 

Quando pensamos no objetivo da educação é necessário pensar em sociedade. A exemplo de nossa sociedade atual, a pesquisa apoia-se na expressão democrática da educação, que carrega em essência o individualismo, a variedade e a diferenciação orgânica, e por isso, uma concepção libertária, que por consequência promove o objetivo da educação para o de desenvolvimento da singularidade e consciência social. Para READ (2020), A singularidade de cada sujeito é de grande valor para a comunidade, pois pode contribuir de maneira única para o desenvolvimento social. Estímulos de incentivo e investimento no desenvolvimento individual e social pela educação é a base para que seja possível diminuir os impulsos egoístas e antissociais que constituem nossa atual sociedade. A parte mais importante da educação é a orientação psicológica, o ajustamento do mundo subjetivo ao mundo objetivo, e por isso mesmo a educação voltada a sensibilidade estética é importante. 

O desequilíbrio entre a inteligência, julgamento e a compreensão da subjetividade leva o sujeito ao desequilíbrio da personalidade, é através da integração do ser humano que evitamos sistemas arbitrários de pensamentos que se apoiam no dogmatismo racional, que procuram impor um modelo lógico ao mundo da vida orgânica. Tratando-se da experiência humana, o autor apresenta que experiência somática deve ser levada em consideração, pois há resultados imagéticos que derivam de um conjunto de percepções nervosas e musculares, inclusive nos sujeitos com deficiência visual. 

Para VIGOTSKY (1999), a arte desperta a vivência, é possível provar o que a arte diz através do sentir. O autor especifica que as emoções desempenham grande peso na criação artística, a imagem tem a capacidade de gerar emoções de dor, tristeza, desespero, amor, comoção, compaixão etc. Confere a arte um papel específico de atuação no campo dos sentimentos no psiquismo do homem social. Dessa forma, quando o sujeito se expressa pela arte, não fala apenas de sua arte, mas de um conjunto psíquico social permeado de elementos de outros tempos, que é reestruturado pela compreensão do particular para aparecer renovado no social. A arte assume o caráter social e emocional do ser humano. 

Aprender sobre a arte na escola é caminhar pelas marcas simbólicas deixadas pelos artistas [...] (IAVELBERG, 2017 p. 170) 

A autora IAVELBERG (2017), objetiva a arte estruturada como via de aprendizagem escolar, um caminho para o desenvolvimento do simbólico da humanidade de outros tempos, aprendendo sobre as diferenças e similaridades culturais. Nesse percurso podem ocorrer estranhamento, provocações, simpatia, encantamento etc., ou seja, gerando inquietação no seu próprio mundo simbólico, expandindo-o. Pela arte podemos trabalhar a questão das diferenças sociais, étnicas, de gênero, comportamentais, emocionais, religiosas, políticas, da estrutura geopolítica atual. Valorizar a arte na educação é valorizar nossa história humana. Desenvolver o olhar para a arte é ampliar e simultaneamente resgatar a sensibilidade humana para uma releitura da nossa espécie. 

Com essa concepção do sensível que a arte infunde, pesquisas práticas foram realizadas em algumas escolas do Canadá, que de acordo com GRAUER (2010), trabalharam para desenvolver a ideia central da aprendizagem através da arte. O trabalho consistiu em levar às escolas de ensino fundamental, artistas para trabalhar em conjunto com professores da educação básica, estratégias em que as crianças pudessem se envolver com projetos pensados para desenvolver a compreensão de outras áreas do saber, como a matemática, a escrita, história etc. Um dos trabalhos desenvolvidos foi a escultura que contava uma história, e após o término do processo as crianças escreviam a narrativa dessa história trabalhada. A pesquisa teve alguns vieses, como dificuldade dos professores da escola em compreender a profundidade das tarefas artísticas, apesar disso, os professores relataram que foi perceptível a motivação e engajamento dos alunos frente a aprendizagem pela arte. 



5 RESULTADOS 


Tornou-se evidente a estrutura que a arte pode oferecer ao desenvolvimento humano e o quanto somos capazes de nos expressar, comunicar, aprender e nos desenvolver pelas múltiplas ferramentas artísticas. A arte fornece acesso a educação da sensibilidade humana e condições de acessar conteúdos sensíveis e esquecidos, mas que se manifestam por angústia, depressão da vontade, sentimentos de desânimo e menos valia. A Arteterapia é uma técnica terapêutica da psicologia que permite ao sujeito falar quando as palavras não comunicam, movimenta o simbólico e instrui o sujeito sobre suas próprias demandas, conduzindo-o ao autoconhecimento, possibilitando aprender sobre suas potencialidades. 

Nos processos escolares, é possível afirmar que não se faz educação sem cultura e não se faz cultura sem educação (BARBOSA, 2018). Da mesma forma que a cultura está contida na educação, a arte também está contida na cultura. Nosso mundo é grafado e não é possível pensar em educação e cultura sem pensar na arte. A relação arte e cultura é um encadeamento expressivo. A arte se apropria das diversas formas culturais do passado e do presente mediando o simbólico, o linguístico e o cultural, podendo projetar algo de futuro na sociedade. A psicologia sócio-histórica compreende essas relações e se apropria de trabalhar no resultado dessas aprendizagens e expressões tanto no sujeito quanto na sociedade. Pela nossa própria história desenvolvemos cultura, aprendizagens e escolas, mantendo a nossa espécie longe da extinção. 



6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 


A aplicação de técnicas artísticas que integram o conhecimento sócio-histórico da psicologia à educação, seja formal no âmbito formal (escolar) ou informal em espaços comunitários ou na recuperação de sujeitos que apresentem comprometimento de suas emoções, a arte se demonstra ser ferramenta eficaz. Através da arte é possível comunicar, explorar culturas antigas, atuais e de outros continentes, ampliando horizontes e possibilitando aprendizagens efetivas na construção de um ser humano mais completo e consciente. A arte proporciona ao sujeito o refinamento da percepção, o afloramento do sensível, trocas afetivas significativas, compreensão de sua individualidade, do seu espaço e do espaço do outro, que na prática proporciona ao sujeito diferenciar abusos sociais e práticas excludentes que fizeram e ainda fazem parte da nossa sociedade. 

Nem sempre compreendemos o que o outro quer nos comunicar, visto que a significação das situações e palavras ocupa lugar único para quem fala. As artes conseguem desenvolver qualidades sensíveis e criatividade para o desenvolvimento da comunicação e expressão. Por isso, é necessário educar para o sensível, andando na contramão do desenvolvimento tecnológico e inteligência artificial, desenvolver o que é humano se faz necessário para a manutenção de nossa sociedade espécie, com apoio das artes, certamente teremos mais sucesso. 



REFERÊNCIAS 


ARAÚJO, Inês Lacerda. Do signo ao discurso: introdução à filosofia da linguagem. São Paulo: Parábola Editorial, 2004. 

BAÉRE et al. Sensação e Percepção: Fundamentos Históricos e Conceituais. In: FREITAS, Joanneliese de Lucas; FLORES, Eileen Pfeiffer (org). Arte e Psicologia. Curitiba: Juruá, 2016. 

BARBOSA, Ana Mae. Seminário Arte, Cultura e Educação na América Latina. Depoimento gravado em março de 2018 no Itaú Cultural, em São Paulo/SP. In: <https://www.youtube.com/watch?v=ClEbe86yjvk> Acesso em 25.08.21. 

BUENO, Orlando F.A., BATISTELA, Silmara. Sistemas e tipos de memória. In: SANTOS, Flavia H., ANDRADE, Vivian M., BUENO, Orlando F. A. Neuropsicologia Hoje. 2ª edição. Porto Alegre: Artmed, 2015. 

CHEVALIER, Jean, GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. 34ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 2020. 

COSENZA, Ramon M., GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende. Porto Alegre: Artmed, 2011. 

DUCHASTEL, Alexandra. O caminho do imaginário: o processo de arte-terapia. São Paulo: Paulus, 2010. 

FREITAS, Joanneliese de Lucas; FLORES, Eileen Pfeiffer (org). Arte e Psicologia. Curitiba: Juruá, 2016. 

GRAUER, Kit et al. Imagens para Compreensão: fotografias de aprendendo através da arte. In: BARBOSA, Ana Mae (org.). Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. 3° edição. São Paulo: Cortez, 2010. 

IAVELBERG, Rosa. Arte/Educação modernista e pós-modernista: fluxos na sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2017. 

MCGUINNESS, Diane. Cultivando um leitor desde o berço: a trajetória de seu filho da linguagem à alfabetização. Rio de Janeiro: Record, 2006. 

READ, Herbert Edward, Sir. A educação pela arte, 2013, 2º edição. Reimpressão. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2020. 

VIGOTSKY, Lev Semenovitch. A construção do pensamento e da linguagem. 2ª edição. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2009. 

VYGOTSKY, Lev Semenovitch. Psicologia da arte. São Paulo: Martins Fontes, 1999. 

Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.1, p. 1160-1170 jan. 2022. 

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